Um recente estudo realizado pela Unicamp revela que a Caatinga, bioma exclusivo do Brasil, corre o risco de perder sua vegetação em 99% do território até 2060 devido às mudanças climáticas. As regiões mais afetadas seriam as chapadas Diamantina e do Araripe, juntamente com parte do Planalto da Borborema.
A pesquisa, baseada em um extenso banco de dados com mais de 400 mil registros de ocorrências de cerca de 3 mil espécies vegetais, utiliza métodos estatísticos e algoritmos de inteligência artificial para analisar como cada planta responde às variações climáticas características.
Segundo o professor Mário Moura, primeiro autor do estudo, o mapeamento considerou dois tipos de vegetação: a arbórea, composta principalmente por árvores de grande porte, e a não arbórea, que engloba cactos, gramas e capins, entre outros.
“Nossas descobertas mostram que, em um cenário otimista, poderíamos perder até 50 espécies de plantas na Caatinga. No cenário pessimista, esse número poderia chegar a 250. Assim, 99% do território sofrerá perda de espécies, especialmente nas regiões Sul e Noroeste do bioma, que são destinos turísticos frequentes”, afirma Moura.
A pesquisa combinou informações sobre a ocorrência das espécies com projeções dos cenários de mudanças climáticas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Por meio dessa abordagem, foram gerados quase 1,5 milhão de mapas, permitindo visualizar o impacto das mudanças climáticas na distribuição das espécies vegetais da Caatinga.
Os resultados também mostram que aproximadamente 40% das comunidades de espécies vegetais do bioma passarão por um processo de simplificação, no qual espécies raras e exclusivas de determinadas regiões serão substituídas por plantas mais comuns, resultando em uma redução da diversidade da Caatinga.
Essa perda de espécies vegetais afeta diretamente o ecossistema, prejudicando a fotossíntese, aumentando a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e intensificando os efeitos das mudanças climáticas.
Moura destaca que o sequestro de carbono realizado pela vegetação é essencial para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Quando ocorre o desmatamento, perde-se a capacidade de absorver e armazenar carbono, comprometendo o equilíbrio ambiental.
Diante desse cenário, o pesquisador ressalta que os impactos das mudanças climáticas podem ser amenizados, mas não revertidos. É crucial que tanto o setor público quanto o privado sejam orientados por estudos como esse para adotar políticas de preservação ambiental.
“A humanidade está na última década para tentar frear essa situação. É como ter uma bola de neve descendo a montanha: chegará um ponto em que não será mais possível detê-la. Ela seguirá seu curso e não conseguiremos mais interrompê-la”, conclui Moura.
Com informações do G1