Em 2020, a gigante de móveis IKEA anunciou que começaria a comprar móveis usados de volta de seus clientes para revenda, mas muitos viram isso como uma simples estratégia de marketing. Na verdade, era o início de uma transformação profunda baseada nos princípios da economia circular. Este movimento, que está redefinindo a forma como produzimos e consumimos, pode ser a chave para enfrentar alguns dos nossos maiores desafios ambientais.
A economia circular não é apenas uma tendência passageira
É uma resposta urgente a um problema crescente: em 2019, o mundo gerou surpreendentes 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico, segundo o Global E-waste Monitor 2020. Desse total, apenas 17,4% foi oficialmente coletado e reciclado. O restante? Enterrado, queimado ou simplesmente descartado, causando danos incalculáveis ao meio ambiente.
Mas o que exatamente é economia circular?
Diferentemente do modelo linear tradicional de “extrair, produzir, descartar”, a economia circular propõe um sistema onde os recursos são utilizados, reutilizados e reciclados pelo maior tempo possível. Até um smartphone velho não é descartado, mas desmontado e suas partes são usadas para criar novos dispositivos. Este é o futuro que a economia circular promete.
Empresas inovadoras estão liderando o caminho. A Patagonia, marca de roupas outdoor, lançou seu programa “Worn Wear” em 2017, incentivando os clientes a reparar suas roupas em vez de comprar novas. Em 2019, a empresa consertou impressionantes 56.000 peças de roupa. Este modelo reduz o desperdício, como também cria novos fluxos de receita e fortalece a lealdade do cliente.
No Brasil, a startup Courri está revolucionando o setor de entregas com sua frota de bicicletas elétricas. Além de reduzir as emissões de carbono, a empresa criou um sistema de logística reversa para coletar e reciclar embalagens, fechando o ciclo e demonstrando que é possível aliar eficiência logística à sustentabilidade.
Os benefícios da economia circular vão além do meio ambiente
Um relatório da Ellen MacArthur Foundation estima que a adoção de princípios circulares poderia gerar US$ 4,5 trilhões em crescimento econômico até 2030. Além disso, a transição para este modelo poderia criar milhões de novos empregos em setores como reparo, remanufatura e reciclagem.
No entanto, a transição para uma economia verdadeiramente circular enfrenta desafios. Requer uma mudança fundamental na forma como projetamos produtos, gerenciamos recursos e pensamos sobre propriedade. Exige também investimentos significativos em infraestrutura de reciclagem e novas tecnologias.
Apesar dos obstáculos, o momentum está crescendo
Governos ao redor do mundo estão implementando políticas para promover a circularidade. A União Europeia, por exemplo, adotou um ambicioso Plano de Ação para a Economia Circular em 2020, visando fazer da circularidade a base do crescimento econômico do bloco.
À medida que avançamos para um futuro mais sustentável, a economia circular emerge como uma solução ambiental e como um novo paradigma econômico. É uma oportunidade de repensar nossos sistemas de produção e consumo, criando um mundo onde o desperdício é minimizado e os recursos são valorizados.
Para as empresas que adotam essa mudança, não é apenas uma questão de responsabilidade ambiental, mas de vantagem competitiva em um mundo em rápida transformação.