Chamados de “corpos em um chip”, eles imitam a fisiologia humana e podem testar os efeitos de novas drogas, substituindo animais de laboratório.
Ken-Ichiro Kamei, um engenheiro da Universidade de Kyoto, é um dos pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento de uma terapia contra o câncer que dispensa a realização de testes em animais. Trata-se de um chip que reproduz tecidos humanos e se mostrou eficaz na avaliação de medicamentos que combatem os efeitos colaterais do tratamento da doença.
Como parte do estudo, eles adicionaram ao chip uma substância chamada empagliflozina, que melhora os níveis de glicose no sangue, para simular os efeitos dessas medicações em tecidos humanos. E, com esse mecanismo, os especialistas descobriram que a empagliflozina pode ser usada durante o tratamento da doença para mitigar os efeitos colaterais dos próprios medicamentos.
Em outro experimento, colocaram no chip células saudáveis do coração e cancerosas do fígado, e adicionaram doxorrubicina – que combate o câncer mas causa efeitos colaterais tóxicos no coração sem o conhecimento claro de como se dá esse mecanismo de toxicidade. E, mais uma vez, sem usar um único animal, eles descobriram que o dano cardíaco, na verdade, era causado por outra razão e não pela doxorrubicina.
Como tudo começou
Foi o bem-estar animal, e não a conservação, que levou Ken-Ichiro Kamei e sua equipe para além da medicina humana. Enquanto estudava ratos de laboratório, ele se perguntava o porquê precisávamos usar camundongos para estudar os humanos. “Ficava intrigado pensando como poderia ajudar esses animais”, conta o pesquisador.
Kamei está na vanguarda de um novo campo da biotecnologia que busca replicar órgãos, sistemas e corpos em formato de chips, que têm um sistema de canais, válvulas e bombas que permitem interações que, de tão complexas, podem imitar a fisiologia de um organismo vivo.
Saindo de moda e para além da medicina
Felizmente, testes em animais estão, aos poucos, deixando de ser o recurso mais confiável para as indústrias e universidades em todo o mundo. Chips com tecidos humanos podem reduzir a necessidade de testes em animais (ainda mais considerando que eles nem sempre reagem a um medicamento ou produto da mesma maneira que as pessoas).
Os “corpos em um chip” não só têm o potencial de melhorar a medicina, como também podem ser ferramentas para a conservação animal. Eles também podem ser usados, por exemplo, para sintetizar carne em laboratório, aliviando o tratamento dado ao gado e o impacto ao meio ambiente causado pela agricultura; para estudar o funcionamento de espécies em extinção e, assim, salvá-las, ou, ainda, para criar produtos a partir de espécies ameaçadas, satisfazendo a demanda do mercado sem matar animais selvagens.
Como nos seres humanos, os chips também abrem uma porta para se estudar e entender melhor a vida animal como um todo – e, dessa forma, protegê-la.
Fontes: CNN Brasil | BBC