Estudo relaciona a crise climática a inúmeros problemas renais.
Um estudo recente realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade Monash, da Austrália, aponta que o aquecimento global pode ser responsável por 200 mil casos de doenças renais em todo o Brasil.
Para chegar a tal conclusão, foram avaliados os registros de saúde de 1.816 cidades brasileiras de 2000 a 2015, que indicaram mais de 2,7 milhões de internações relacionadas a problemas nos rins como falência renal aguda, doença renal crônica e pielonefrite, um tipo de inflamação.
Aumento de hospitalizações e sobrecarga do sistema de saúde
O trabalho inédito foi publicado na publicação médica especializada “The Lancet Regional Health – América” e aponta que o risco estimado de hospitalização durante o intervalo de uma semana cresceu 0,9% a cada aumento de 1 grau na temperatura.
O dado requer atenção especial quando levamos em conta o tamanho da população e dos portadores de doenças nos rins já existentes no Brasil.
De acordo com a Sociedade Internacional de Nefrologia, nos últimos 10 anos, houve um aumento de 100% no número de pacientes que realizam diálise (90 mil brasileiros ao todo), um tratamento que gera um alto custo para a saúde pública. Além disso, pacientes com problemas renais podem ter uma redução na expectativa de vida.
Mas qual é a relação entre uma coisa e outra?
Os pesquisadores explicam que com o aumento do suor em períodos quentes, maior é a desidratação do organismo.
Isso já seria o bastante para dificultar o trabalho dos rins, que têm como principais funções: filtrar o sangue, eliminar substâncias que fazem mal ao organismo, manter o equilíbrio de diferentes minerais no corpo, produzir hormônios e regular o equilíbrio ácido-básico corporal, mantendo o pH sanguíneo constante.
Quais são os grupos mais afetados?
O estudo aponta que alguns grupos específicos têm a saúde renal mais afetada por causa do aumento da temperatura: mulheres, crianças até 4 anos e idosos acima de 80 anos.
De acordo com Paulo Saldiva, patologista e um dos cientistas que assinam o estudo, “Indivíduos muito jovens ou muito idosos costumam ter o “termostato” do corpo, que envolve receptores na pele responsáveis por perceber o calor, imaturo ou desregulado. Com isso, o organismo não aciona muito bem os mecanismos que regulam a temperatura.”
Já as mulheres apresentam um teor de gordura corporal diferente dos homens para que possam realizar processos como o de gestação e amamentação, o que as tornam ainda mais vulneráveis ao aumento das temperaturas. Outro fator de risco é que apresentam maior propensão a doenças autoimunes, como lúpus, que podem afetar órgãos como os rins.
Como se proteger?
Médicos recomendam que, durante períodos quentes, a população se hidrate bem e use roupas leves. Além disso, é importante visitar o médico regularmente para realizar testes simples que atestam a saúde renal, como exames de urina e dosagem de creatinina, que são disponibilizados pelo SUS.
Como resolver o problema?
O estudo evidencia que as consequências do aquecimento global já estão sendo enfrentadas pela população, por isso, é essencial que sejam colocadas em prática políticas públicas de enfrentamento ao aquecimento global.
Há espaço para ações de todos os tipos e níveis de complexidade como, por exemplo, revisão da matriz energética priorizando fontes de energia limpa, aumento da cobertura vegetal que ajuda a combater a formação de ilhas de calor; criação de centros de resfriamento em que a população possa buscar abrigo em períodos muito quentes e desenvolvimento de campanhas com orientações à população.
É importante destacar que Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a crise climática será responsável por 250 mil mortes por ano globalmente até 2030. A entidade ainda reforça que países em desenvolvimento, como o Brasil, deverão ter ainda mais problemas para o enfrentamento de problemas como o excesso de calor, diarréia, desnutrição, entre outros esperados. É necessário agir, agora.
Fontes: Envolverde | Science Direct | Mongabay | BBC