A pandemia do coronavírus tem dominado as manchetes de todos os jornais do mundo, mas há outra questão urgente e importante que vem chamando atenção – já há bem mais tempo, na verdade: os danos que estamos causando aos oceanos e o quanto isso também ameaça a nossa própria existência.
Os organismos que lá vivem produzem mais da metade do oxigênio do mundo. A vida oceânica absorve cerca de um quarto do dióxido de carbono que liberamos na atmosfera, o que ajuda a reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera da Terra e nos protege do aquecimento global. Mas isso tem um custo.
Quando os oceanos absorvem CO2, eles se tornam mais ácidos, o que afeta diretamente as espécies marinhas, especialmente moluscos e corais, que constroem suas conchas e esqueletos de carbonato de cálcio.
Mais de 90% do aquecimento da Terra nos últimos 50 anos ocorreu no oceano. E quando os mares ficam muito quentes, a vida marinha sofre. Os corais podem morrer de fome e ficarem mortalmente brancos. Nos últimos anos, recifes em todo o mundo – incluindo metade dos corais na Grande Barreira de Corais, na Austrália, passaram por eventos de branqueamento em massa.
Mais de 80% do oceano ainda é desconhecido; os pesquisadores estimam que nove em cada 10 espécies oceânicas ainda não foram classificadas. No entanto, a poluição está prejudicando os ecossistemas e a vida selvagem. Milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos todos os anos, matando e ferindo criaturas marinhas. Pequenos pedaços de plástico podem ser ingeridos pelos animais marinhos, com efeitos potencialmente nocivos.
Os fertilizantes fluem das terras agrícolas para o mar, onde podem alimentar grandes florações de algas. Ao usar o oxigênio da água, florações como essas criaram mais de 400 “zonas mortas” no oceano. Essas áreas são tão carentes de oxigênio que mal conseguem sustentar a vida marinha.
Globalmente, cerca de 15% da proteína que comemos vem de frutos do mar. Com uma população humana crescente e o desenvolvimento de tecnologias de pesca em escala industrial, o dobro de frutos do mar é consumido agora do que em 1970. A pesca comercial fez com que mais de 90% dos estoques de peixes marinhos se tornassem totalmente pescados ou super explorados. A sobrepesca, quando uma espécie é pescada além da sua capacidade natural de reprodução, tende a matar peixes maiores e reduzir as taxas de reprodução. Também ameaça as centenas de milhões de pessoas que dependem da pesca para obter alimentos e renda.
Os parques eólicos offshore, as ondas e marés têm um enorme potencial para fornecer energia renovável para um mundo que precisa reduzir o consumo de combustíveis fósseis.
Por falar neles, milhões de galões de petróleo vindos de infiltrações naturais, perfurações e derramamentos de navios e oleodutos são lançados nos oceanos todos os anos. Até mesmo o óleo das estradas e dos bueiros fluem para o mar. Os golfinhos podem inalar óleo, danificando seus pulmões. O óleo prejudica os peixes, captura tartarugas e pode tornar as penas das aves incapazes de repelir a água, fazendo com que morram de hipotermia.
Mas ainda dá tempo e tem muita gente trabalhando firme para mudar essa situação. Cientistas nos Estados Unidos desenvolveram o “Oleo Sponge” – um dispositivo reutilizável que pode ajudar a limpar derramamentos. No ano passado, o Ocean Voyages Institute usou a tecnologia de satélite e drones para remover mais de 40 toneladas de plástico do oceano Pacífico.
Em abril, uma equipe de cientistas do mundo todo descobriu que a vida marinha poderia se recuperar para níveis saudáveis nos próximos 30 anos se as pressões sobre os oceanos – incluindo as mudanças climáticas – forem levadas como prioridade pelas nações de todo o mundo. Pesquisadores relataram recentemente que muitos recifes de coral ainda podem ser salvos se áreas marinhas protegidas forem estabelecidas e a pesca for melhor regulamentada.
Embora existam inúmeras ameaças aos nossos mares, também existem muitas oportunidades para encontrar soluções. Sabemos que não é só de tecnologia que precisamos para limpar a bagunça que fizemos. Precisamos também uns dos outros. A situação é sombria, mas não é tarde para fazer a diferença. Precisamos de informação, de consciência ambiental e de muita vontade de mudar, porque ainda dá para virar esse jogo!