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Proteínas de esponjas marinhas combatem poluentes plásticos nos oceanos

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Os habitantes mais antigos de nossos oceanos estão revelando uma surpreendente capacidade de adaptação frente à crescente ameaça da poluição por plásticos. As esponjas marinhas, que habitam nosso planeta há impressionantes 600 milhões de anos, demonstraram uma habilidade inesperada de combater poluentes plásticos através de proteínas produzidas por microrganismos que vivem em simbiose com elas.

Pesquisas recentes, publicadas nas revistas “Marine Pollution Bulletin” e “Aquatic Toxicology”, lançam luz sobre como esses animais ancestrais estão reagindo à presença de substâncias como o DEHP (Bis(2-etilhexil) Ftalato), um composto comumente usado para tornar os plásticos mais flexíveis.

A Dra. Liv Goldstein Ascer, da Universidade de São Paulo, liderou estudos focados na espécie Hymeniacidon heliophila, conhecida como esponja-sol. Suas descobertas são ao mesmo tempo preocupantes e fascinantes. As esponjas, que normalmente filtram de 2 mil a 20 mil litros de água por dia, inicialmente mostraram alterações em seus movimentos vitais quando expostas ao DEHP.

“As esponjas são sentinelas da contaminação oceânica, pois acumulam microplásticos e químicos”, explica o Professor Ítalo Braga de Castro, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Esta característica as torna indicadores cruciais da saúde de nossos oceanos.

O aspecto mais notável da pesquisa é a revelação de que as esponjas desenvolveram um mecanismo de defesa contra esses poluentes. Proteínas geradas pelos microrganismos que vivem em simbiose com estes animais demonstraram a habilidade de eliminar o DEHP, permitindo que as esponjas recuperassem suas funções normais.

A Dra. Ascer comenta sobre esta adaptação: “Ele alterou sua microbiota para enfrentar o problema. Isso nos ajuda a entender como esses organismos podem sobreviver em ambientes poluídos, mas também levanta questões sobre os efeitos a longo prazo dessas mudanças.”

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Toneladas de plásticos são despejadas nos oceanos

Esta descoberta é particularmente significativa considerando o contexto global da poluição por plásticos. O Brasil, por exemplo, despeja anualmente 1,3 milhão de toneladas de plástico no Atlântico, colocando-o entre os dez maiores poluidores globais. Os efeitos desta poluição são visíveis em toda a cadeia alimentar marinha, desde pequenos organismos até grandes mamíferos.

Apesar da gravidade da situação, as respostas políticas têm sido insuficientes. O Projeto de Lei 2524/2022, que visa aumentar a reciclagem e reduzir a produção de plásticos descartáveis no Brasil, encontra-se estagnado no Senado. Internacionalmente, as negociações para um tratado global sobre plásticos enfrentam resistência de setores que lucram com a produção destes materiais.

Uma luz

No entanto, há sinais de esperança. Mais de cem países exigiram a redução mundial da produção de plásticos na recente reunião em Busan, Coreia do Sul. Lara Iwanicki, da Oceana Brasil, destaca: “O resultado de Busan mostrou a união e a força da ciência, da sociedade civil e de países que se recusaram a sair da reunião com um tratado que não focasse na cadeia produtiva dos plásticos.”

As esponjas marinhas, com sua recém-descoberta capacidade de combater poluentes plásticos, oferecem uma lição valiosa sobre adaptação e resiliência. Contudo, também nos alertam que o tempo para ação é agora. A batalha contra a poluição por plásticos requer esforços conjuntos de governos, indústrias e sociedade civil. Só assim poderemos garantir que estes antigos guardiões de nossos oceanos, junto com toda a vida marinha, continuem a prosperar por muitos milhões de anos mais.

Esta descoberta destaca a incrível capacidade de adaptação da vida marinha e ressalta a urgência de abordarmos a crise da poluição plástica em nossos oceanos. As esponjas marinhas, em sua luta silenciosa contra os poluentes, nos mostram que a natureza pode ser resiliente, mas também que não devemos abusar dessa resiliência.

Com informações de O Eco

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