De acordo com dados de pesquisa recente da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), 1.425 municípios brasileiros não possuem coleta seletiva.
E esse número pode ser ainda pior do que as estatísticas indicam, uma vez que o processo de avaliação é falho em grande parte de pelo menos 70% dos outros municípios.
A coleta seletiva seria uma importante prática também para solucionar outro sério problema: os lixões. Com mais de 2.600 lixões a céu aberto no Brasil recebendo mais de 30 milhões de toneladas de resíduos por ano, não é necessário dizer que a falta de incentivo prejudica não somente o meio ambiente, mas também a criação de empregos nas indústrias de reciclagem.
Benefício triplo e importância das cooperativas
Outro levantamento da Abrelpe, de 2019, aponta para uma perda na ordem de R$ 14 bilhões gerada pelos resíduos que poderiam ser recicláveis, mas que vão parar nesses mais de dois mil lixões existentes no país. A situação se agrava ainda mais se levarmos em conta o contexto de crise econômica dos trabalhadores que atuam com a coleta de lixo, especialmente porque os avanços na reciclagem significariam, um aumento nas oportunidades de emprego para camadas em situação de vulnerabilidade de norte a sul do país.
A reciclagem tem esse potencial benefício que atua em três esferas: ambiental, pois reduz o descarte inadequado e minimiza a extração de recursos; econômico, porque movimenta o mercado a com novos recursos; e social, já que ajuda a inclusão desses trabalhadores.
Nesse sentido, as cooperativas realizam um importante trabalho de inserção social da população no mercado de trabalho, e esse cenário se acentuou na pandemia. Trabalhadores perderam seus empregos, e foi através daquilo que as pessoas chamam de “lixo” que milhares de pessoas passaram a ter uma fonte de renda e, de alguma forma esses catadores passam a ser reinseridos no mercado de trabalho.
Resíduos reciclados no país
A pesquisa da Abrelpe joga luz sobre outro importante cenário dos resíduos no país: apenas 4% são reciclados. O número é quatro vezes maior em países economicamente similares ao Brasil, como Argentina, África do Sul e Chile, e chega a 67% na Alemanha, por exemplo.
O problema tem várias fontes e todas elas culminam com esse cenário de atraso que citamos no começo do artigo. Em primeiro lugar, a dimensão territorial do Brasil dificulta a logística do processo de retorno do material. O custo pela tributação é outra adversidade, já que o país não tem previsão tributária que priorize a utilização do resíduo como recurso. Aliás, em muitos casos, existe inclusive uma bitributação e, com isso, o recurso acaba saindo mais caro que a matéria-prima. Por fim, a falta de integração entre as esferas do poder público termina por atrapalhar qualquer avanço nesse sentido. E, sem políticas de integração para criar uma economia de escala, as ações acabam sendo pontuais e individualizadas.
Como vimos, quando se trata de sustentabilidade urbana, um dos maiores desafios enfrentados pelos municípios brasileiros é a gestão dos resíduos sólidos. Mais do que os perigos sanitários e de saúde pública resultantes do acúmulo de resíduos tóxicos, existe a preocupação com a preservação do ambiente natural e com a reutilização de recursos. Com a coleta seletiva, o montante que é indevidamente encaminhado aos aterros e lixões poderia gerar benefícios de quase R$ 8 bilhões anuais, isso sem contar a diminuição da poluição, a economia no consumo de energia e água, a diminuição dos gastos com a limpeza urbana e a geração de emprego e renda pela comercialização dos recicláveis.
Reciclar, reaproveitar e reduzir são a chave para se viver em um mundo mais limpo e sustentável.
Fontes: R7 | Abrelpe | Meu Resíduo