Nas próximas décadas, a duração das ondas de calor intenso deve chegar a 80 dias consecutivos, na Região do Golfo Pérsico. Estudos climáticos preveem que, no final desse século, o Oriente Médio poderá enfrentar períodos de três a quatro meses com fortes ondas de calor.
Ainda que o mundo consiga, a partir de 2040, reduzir a emissão de gases do efeito estufa, o cenário é drástico, considerando que, na atualidade, as ondas de calor duram em média, 15 dias.
O impacto será devastador às atividades agrícolas. Hoje, o setor já enfrenta dificuldades em consequência da degradação da qualidade do solo (alta concentração de sais) e da água.
Por falta de planejamento as fontes de águas subterrâneas foram utilizadas irrestritamente, resultando no esgotamento de recursos hídricos para a agricultura. A estiagem prolongada e as altas temperaturas inviabilizam a recuperação dos reservatórios naturais de águas, em rios e aquíferos. O solo está cada vez mais seco e pobre de nutrientes, o que reduz a produtividade agrícola.
Seca reduz abastecimento de água na África e Oriente Médio
Um exemplo de uso irrestrito de águas é o que acontece na Jordânia. O consumo de água naquele país é 160% superior à capacidade de reposição dos reservatórios naturais, através das chuvas. Do consumo total de água, na Jordânia, 50% é gasto na agricultura, apesar da baixa produção de alimentos do país.
A infraestrutura precária também favorece perdas de volumes altos de água, ao longo do sistema de abastecimento, fora as ligações clandestinas e o mau uso desse precioso recurso natural.
A exploração intensa de combustíveis fósseis (petróleo e derivados) é responsável pelo alto nível de poluição atmosférica e das águas, no Oriente Médio. Os subsídios governamentais concedidos à cadeia de negócios do petróleo colocam a exploração de fontes de energia renováveis, como a solar e eólica, em segundo plano.
Isto, associado à desertificação que atinge a região, também prejudica a agricultura e, em consequência, aumenta os riscos de fome, entre as famílias mais pobres.
Outra atividade que sofre os efeitos das mudanças climáticas e da poluição ambiental, no Oriente Médio, é a pesca em águas costeiras. O volume de pescados vem diminuindo ano a ano em decorrência da poluição dos mares e do efeito estufa.
O Iraque também enfrenta problemas durante os períodos de seca, pois perdeu parte de suas reservas naturais de águas, em consequência das guerras e de uma barragem construída pela Turquia, nos rios Eufrates e Tigre.
Na Arábia Saudita, país que não tem rios, o abastecimento é garantido por usinas de dessalinização, construídas a partir da década de 70. A Companhia Nacional das Águas da Arábia Saudita, por exemplo, comercializa água reciclada para produtos de gado leiteiro.
No início do ano, autoridades da África do Sul proclamaram estado de catástrofe em consequência da seca intensa que assolou a região. Na Cidade do Cabo, a segunda maior cidade sul-africana, a seca registrada, a partir de 2016, é a mais grave em comparação com os períodos de estiagem prolongados, ocorridos no século passado.
O governo impôs o racionamento de água para evitar uma situação mais trágica, com o desabastecimento total de água nas torneiras. Caso contrário, a Cidade do Cabo corre o risco de se tornar a primeira cidade do mundo a ficar totalmente sem água potável.
Angola, Moçambique e Etiópia são outros dois países africanos assolados pela seca. Os efeitos do El Niño, em 2016, agravaram ainda mais a situação, em várias partes da África.
Só para ter uma ideia da dimensão do problema gerado pela seca, é importante destacar que na Etiópia, em 1984, mais de 1 milhão de pessoas morreram de fome e sede devido a uma das piores secas que o país enfrentou no século XX.
Com a queda da produtividade agrícola, os países mais atingidos pela escassez de alimentos são obrigados a importá-los a preços mais altos. O impacto para a segurança alimentar é imenso, pois as famílias pobres não podem comprar alimentos caros.
A escassez de água, agravada por períodos prolongados de seca, na África e Oriente Médio, pode gerar sérios conflitos entre os países dessas regiões. O Egito e a Etiópia, por exemplo, estão próximos a este ponto porque o governo etíope planeja construir uma usina hidrelétrica na cabeceira do Rio Nilo. O empreendimento poderá prejudicar o fluxo de água ao lado Nasser.
A instabilidade política também dificulta o estabelecimento de acordos para minimizar os efeitos da seca na África e Oriente Médio.